Se eu dissesse a você que a cada dia que passa seu dinheiro parado, não só aquele debaixo do colchão, mas também aquele aplicado na “boa” e velha poupança, poderia estar perdendo valor. O que você faria com ele?
Certamente o primeiro passo é entender como o dinheiro ganha ou perde valor.
Vamos a um exemplo prático: um indivíduo possui 100 unidades monetárias, com essas unidades é possível comprar uma cesta de Bens e Serviços, portanto, ela custa 100 unidades monetárias.
Essa “cesta de bens e serviços” é composta por itens usados no dia-a-dia: alimentação, bebida, habitação, artigos de residência, vestuário, transporte, saúde, cuidados pessoais, educação, etc. É basicamente sobre esta cesta de consumo que o IBGE apura o IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo, um dos índices inflacionários do país, que é conhecido como o custo de vida da população. Para o cálculo do IPCA são coletados dados dos preços dos itens que compõem uma cesta de bens e serviços entre os dias 1 e 30 (ou 31) de cada mês, englobando as famílias com renda mensal entre 1 e 40 salários mínimos.
Caso a renda desse indivíduo aumente 10%, ela ficará em 110 unidades monetárias e caso a “cesta” que representa a inflação também aumente 10%, a cesta custará também as 110 unidades monetárias. Portanto, se aumentar a renda na mesma proporção que a inflação, não faz diferença, o poder de compra continua o mesmo. Ou seja, seu dinheiro não teve de fato “ganho” com esse aumento.
Outra simulação é caso esse indivíduo use as 100 unidades monetárias para fazer uma aplicação financeira que rende 8% de juros dentro de um determinado período, um ano por exemplo, lá no final ele terá 108 unidades monetárias. Porém, se a inflação supostamente aumentar neste mesmo um ano 10%, a cesta passará a custar 110 unidades monetárias. Isto é, ele não consegue mais comprar 01 cesta com a própria renda, consegue comprar um pouco menos que uma cesta, diminuindo o poder de compra do indivíduo, sendo assim, o dinheiro está perdendo valor.
Porque é importante saber disso?
Para saber aonde aplicar corretamente seu dinheiro.
Para isto é preciso esclarecer sobre duas taxas:
1º) A taxa Selic
2º) A taxa da Inflação Esperada.
A taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia) é a taxa básica de juros da economia. O Comitê de Política Monetária (Copom) é o órgão do Banco Central que fixa a taxa Selic, a cada 45 dias. Na última reunião (245º) do Copom realizada em 15 e 16/03/2022 a taxa básica de juros (Selic) foi fixada em 11,75%.
Para entendimento do exemplo citado, pode-se dizer que a Selic é a taxa que norteia o rendimento das aplicações financeiras dos empréstimos e financiamentos realizados pela população. A expectativa da inflação, apurado pelo Boletim Focus foi de 6,40%.
Vale esclarecer que, não cabe aqui utilizar a inflação passada, e sim a inflação esperada. Obviamente, não tem como prevê-la exatamente, mas é possível ter uma ideia a seu respeito. Não se utiliza a inflação passada, pois ela não tem relevância. Relevante é o que você espera que será a inflação. Para assim poder fazer um comparativo eficaz na tomada de decisão quanto a Consumir ou Poupar.
Logo, com as informações de Taxa Selic e Taxa da Inflação Esperada, pode-se realizar o cálculo da taxa real de juros, ou seja, o rendimento real de uma aplicação financeira.Para tanto, usa-se a Equação de Fisher, também conhecida como cálculo da taxa de juros real:
A taxa real de juros é o retorno da aplicação financeira deduzida a inflação esperada no período da aplicação.
Substituindo pelas taxas:
1 + 11,75% – 1
1 + 6,40%
1 + 0,118 – 1
1 + 0,064
1,118 – 1
1,064
Taxa real de juros para o período: 5,03% (positiva)
Embora a inflação esteja alta, ainda assim vale investir em aplicações com rentabilidade superiores à inflação esperada.
Seja o dinheiro empregado na sua empresa ou nas suas aplicações financeiras, qual é a projeção para o próximo ano? Estão rendendo acima da inflação esperada? Seu dinheiro está “ganhando valor”?
Eu espero que sim.
Bruna Heloisa da Cruz Faes
Especialista em Controladoria e Finanças
DJE Advogados Associados